quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Troquinho

O primeiro baque que a gente leva quando se percebe adulto é a relação direta entre dinheiro e independência e a vida humana.
Se quero um livro novo: preciso de dinheiro.
Comer uma pizza vegetariana/vegana: preciso de dinheiro.
Pegar um ônibus para ir ver as amigas: preciso de dinheiro.
Imprimir as apostilas da faculdade,trabalhos, material de leitura etc.: preciso de dinheiro.
Se quero ajudar pessoas necessitadas: preciso de dinheiro.
Enfim... para a grande maioria das coisas precisamos de cédulas e moedas.
Pessoas bem ignorantes mesmo gostam de diminuir e menosprezar os sentimentos de cinismo e frustação de adultos feito eu, que estão na faixa dos antes dos 30; até porque o imaginário coletivo tem por padrão que o jovem se preocupa apenas em divertir-se o máximo em todos os aspectos, e que gasta dinheiro irresponsávelmente, e que não se importa com os problemas do mundo por maos que 5 minutos.
Bem, na atual conjuntura do Brasil e do Mundo, vamos que há décadas isso deixou de ser verdade (e digo com propriedade porque eu mesma já vivo há mais de duas décadas). Os jovens estão se estressando por causa de dinheiro, pois os que encontram um emprego por vezes se matam de trabalhar para arcar com as contas e ainda ter o mínimo de diversão, e os que não encontram (mesmo os graduados nas melhores universidades) se veem dependendo dos pais ou de bolsas de estágio e pós-graduação que por vezes são cortadas, o jovempensa no futuro e em se estabelecer o que só complica ainda mais o nosso sentimento de incompetência e o choque de realidade quando vemos como é se adulto e pagar suas contas. O jovem se entristece quando não consegue ajudar os pais em momentos difíceis; a gente se sente um fracasso por não conseguir nem o mínimo. 
Envolvendo relações amorosas, muitos não namoram porque não tem dinheiro para sair e nem para manter uma relação (passagem,gasolina,ingresso de cinema, dogão da esquina, aquele presentinho de vez em quando, levar uma sobremesa quando vai almoçar na casa dos sogros e etc.) e isso tudo aliado à liquidez das relações humanas na atualidade, supervalorização e recreatividade sexual e  novos conceitos de afetividade deixam mais difícil uma situação que por si só já é exigente: Encontrar alguém.
Não vou dissecar todos os pormenores pois acredito que já me fiz entender, mas se tem algo que a sociedade não compreende como deveria é como o jovem adulto está mais e mais adulto, e se desvencilhando mais e mais das características típicas de jovem.
A crise financeira mundial,nacional, regional,estadual, municipal acaba intensificando a crise pessoal vivida em diferentes níveis por cada um.
Se eu soubesse, teria ainda hoje guardado todas os "troquinhos" que eu usava para comprar bala quando era criança.