terça-feira, 12 de setembro de 2017

Espirais

Oi gente,
 São 14:02 de 12 de Setembro de 2017, estou na biblioteca da universidade com anotações, uma pilha de 4 livros para consulta e um caderno velho para fazer resumos e trabalhos. Fui dispensada da aula prática de Bioprocessos porque já havia feito a mesma no semestre anterior, então resolvi vir estudar e me adiantar já que só tenho outra aula âs 18:30h. Lembrando que tenho prova segunda feira, e uma apresentação terça.
    Já estou exausta, e mal comecei.
    Eu sinto um tédio tão profundo em alguns dias, que começo a chorar dentro do trem, tomando cuidado para que as pessoas ao redor não percebam e venham me fazer perguntas. Não gosto muito de responder perguntas pessoais, nem de dizer "o que é que eu tenho","o que deu em mim" ou " que bicho me mordeu" ... Eu só quero chorar sozinha, e depois me recompor e concluir minhas tarefas. Esses espirais descendentes que me deixam para baixo às vezes não se demoram em passar, mas são frequentes.
   Veja bem, não estou dizendo que sou infeliz ou deprimida, ou reprimida, e nem que estou insatisfeita com a vida que estou levando; não é nada disso. O fato é que cada dia é mais evidente o quanto somos sugados todos os dias; nossas forças, nossa energia, nosso ânimo, até mesmo nossa saúde e nosso humor são sugados diariamente do trajeto cansativo e desconfortável no transporte público, no caminho de ida e volta pra casa do trabalho/faculdade/escola e afins, nos relacionamentos superficiais que colecionamos e na falta de relacionamentos profundos e verdadeiros que sentimos. Estamos sendo sugados. Tem um parasita se alimentando da gente. Ao fim do dia, eu estou morta, e nem me dou conta de que dormi ... Só percebo que adormeci quando desperto no dia seguinte e começo tudo de novo.
   Somos lançados nessas espirais, nessas correntes, nesses cabos de sucção que tiram tudo de dentro da gente... Sem contar ainda todo o dinheiro que sai do nosso bolso. Tanto suor e labuta para o dinheiro durar tão pouco.
    Tem dias que eu me pego com medo. Sério, com medo mesmo.
     Medo de não conseguir um emprego decente, medo de ser solteira para sempre, medo de descobrir uma doença grave, medo de ser morta num episódio de violência urbana, medo de ser assaltada, medo de tirar notas baixas nas provas, medo até mesmo de sair de casa ... Ao final do espiral, quando não há mais alma a ser sugada, resta-nos o medo. Medo do futuro, medo do amanhã, medo das escolhas que fizemos, medo das que não fizemos ainda, medo das que nem chance tivemos de fazer, medo daqueles que escolhem pela gente.
        Brasileira, natural do Rio de Janeiro, 22 anos, universitária numa instituição federal de ensino superior, assistindo e sentindo tudo o que acontece no Rio, no Brasil e no mundo, otimista apesar de tudo, insistente acima de tudo, feliz e determinada contudo,porém cansada, arrastada pelo tédio, e às vezes, com medo. Medo de verdade.

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